Segundo um teólogo medieval: Se Deus existe como as coisas existem, ele
não existe. Oscar Niemeyer retrucou: Mas
que significa isso? Eu respondi: Deus
não é um objeto que pode ser encontrado por ai; se assim fosse,ele seria uma
parte no mundo, mas não Deus.
(L. Boff)
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Depois de
caminhar quarenta dias e quarenta noites, Elias chegou à montanha de Deus,
Horeb. Entrou numa gruta e Iahweh o questionou: Que fazes aqui, Elias? Ele respondeu: No ardor do zelo por vossa causa fiquei só. Recebeu a ordem: Fique aqui, pois hei de passar à tua frente.
Eis que um impetuoso furacão fendia a montanha e quebrava rochedos, mas Deus
não estava ali. Depois, houve um terremoto e, nele, Deus também não estava.
Depois surgiu um fogo e Deus também não estava ali. No fim, surgiu o murmúrio
de uma brisa suave e dali surgiu uma voz: Que
fazes aqui, Elias? Vai e retoma teu caminho em direção a Damasco. (1
Reis, 19,8-13)
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Brisa
se afirma pelo ‘toque’, atinge-nos por envolver, pacifica por conciliar. Brisa
é a origem, da qual todos emanam. Ela é seguro sustento dos viventes. É,
sobretudo, abraço a integrar - no amor - justos e pecadores, vivos e falecidos;
não julga ninguém nem condena, pois seria desfazer-se de si mesmo.
Brisa é a origem dos seres na ilimitada
diversificação em inesgotáveis modalidades de ser e agir. É a pacificação da
inquietude que nos agita quando nos tornamos estranhos a nós mesmos e outros
nos perturbam ou amarguram.
Brisa é marcada por
simplicidade, sem pretensões; sua característica é sobriedade sem recurso a
intervenções; identifica-se com os seres pela suavidade do toque; nunca os
violenta, respeita-os incondicionalmente, cada um em seu ritmo e na
particularidade de seu dinamismo interior e exterior.
Sim,
Brisa nos familiariza com inacabamentos e contradições que nos tornam, às
vezes, distantes e até adversos a nós mesmos, opondo-nos também a outros. É
a Brisa que nos conscientiza e reconcilia com a realidade. Brisa se faz sorriso
em nosso coração e compaixão em nossas atitudes.
Brisa
nos faz tocar no Deus em nós; nos surpreende com serenidade e se faz sorriso em
nosso rosto, acréscimo em nossas relações. E eis que assumimos o ‘perdão
original’. Passamos a fechar feridas, assimilando o que nos sucedeu, deixando
de nos amargurar por causa de outros.
Brisa nos faz cuidar de feridas da
própria culpa, da nossa ignorância e de nossas perturbadoras limitações. Assim,
possibilitamos que Deus se humanize em nós e nos tornemos mediação de sua
presença. E eis que paz e alegria se estabelecem em nosso coração.
Situações,
fatos e pessoas formam a corrente, pela qual Brisa se manifesta, nos envolve,
questiona, beneficia e conduz. Não por um poder todo-poderoso, mas pela
fragilidade na mediação que nos faz viver em paz.
Ora, somos qual Jó ou como Jesus, ora como
enfermos ou como saudáveis.Quem procura bode expiatório de tudo que sofre, não
respeita o mistério da vida com tudo que traz de bem e de mal - de forma
incontrolável.
Anda
em busca de uma explicação ou justificativa, quem ignora a leveza de Brisa,
sempre a serviço da vitória do bem. Envolvida por paradoxos, em situações
adversas, Brisa atua a favor de todos.
Em meio a ondas encapeladas, há
experiências estranhas, surpreendentes, benfazejas ou não, que se revestem de uma estranheza
incomum. Parece, então, que cada um desliza de derrotas a vitórias - sopro de
Brisa.
Nunca
nos encontramos em uma condição de mera culpabilidade. Como em Jesus, é a
entrega confiante que nos há de conduzir. Brisa se mostra presença, lenitivo e
ternura; traz afeto e compaixão que tanto nos fortalecem.
Nada mais pacificador e fraterno que o perdão.
Nunca se fechar, porém abrir-se, acolher em abraço caloroso. Ao assim proceder,
nos mostramos espelho de Brisa-Deus
- nosso guia e libertador.
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